- Avisaste a tua mãe que vais jantar à da madrinha?... atã vê lá depois não te demores nem te metas em bebedeiras que amanhã trabalha-se! Isto não são férias só porque o Jaquim cá está.
Mas são. É como as férias, este passarinho no coração, só porque o Jaquim cá está. Finalmente, cá está o Jaquim.
- Atão, vamos aonde?
- Não sei, queres ir prá onde?
- Bora lá pra baixo.
E lá vão eles, rua abaixo, em direcção ao campo de futebol, que era o que o Zé queria dizer. E depois não dizem mais nada porque não sabem o que dizer.
Vai o Zé sorrindo e depois sorri também Jaquim por ter apanhado o sorriso do Zé pelo canto do olho.
O campo de futebol está deserto. Ainda é cedo para os putos que vêm para aqui jogar depois da escola e o sol é o dono do campo mesmo que ainda nem tenha começado o Verão no calendário. O pó sofre mais debaixo deste calor que debaixo dos pés dos moços. O Jaquim experimenta sentar-se na cerca do campo, mas o ferro ferve e vão antes para o banquinho dos velhotes, debaixo do plátano.
- Atão?
- Cá estamos!
- Tás fixe, em Lisboa?
Jaquim encolhe os ombros.
- Tás de férias?
- Não, tou desempregado.
- Vais voltar para cá?
- Não. Já tenho um trabalho que deve começar para a semana. E tu, tás porreiro?
O Zé não responde. Apanha umas pedrinhas do chão e começa a atirá-las ao ferro da cerca. Acerta quase sempre e, no silêncio da tarde, o som metálico ecoa com a violência de tiros.
domingo, 16 de março de 2008
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