- Onde é que vamos?
O Jaquim acena só com a mão lá para a frente da estrada.
- Já está calor. Se calhar até dá para ir nadar à ribeira. - diz o Zé.
- Sim, se calhar dá.
Não era na ribeira que o Jaquim estava a pensar, mas o sítio onde quer ir é a meio caminho. O sítio frente ao qual qualquer conversa de Verão arrefecia. Para chegar à ribeira era sempre preciso passar pelo cemitério. Os seus muros brancos e os negros criprestes até já se vêem daqui.
- E tu, quando me vais visitar a Lisboa?
- Hei-de ir, hei-de ir...
Que mais pode ele responder? Nem ao Jaquim consegue dizer nada. Aquilo é como uma falta de ar no peito.
Quando começou a ajudar o pai no talho era ainda menor e disseram-lhe que o governo não deixava que lhe pagassem por causa disso. E depois foram-se acumulando as desculpas. Este mês não há dinheiro. Foi preciso comprar a carrinha nova. Então, paguei-te a carta, do que é que te queixas? Dinheiro para quê, para gastares em cerveja?
Desculpas, ordens, discussões, mas dinheiro que é bom, nada.
Zé Manel nem tem conta no banco. Pois sim, tem trabalho e quem lho dê, tem comida e quem lha faça, tem roupa e quem lha lave e, por enquanto, vai tendo um tecto. Enquanto não fugir. Enquanto não sufocar de vez, enterrado vivo como vive, naquela casa, naquele talho, nesta Vila Velha que envelhece a gente antes do tempo.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário