O cão vem disparado lá de cima.
Chega aos dois abanando o rabo e freneticamente indeciso entre lamber o Zé ou cheirar o Jaquim.
- Fugiste outra vez, sacana? Fugiste outra vez? Fugiste outra vez, meu maroto? Seu maroooto!
O cão gosta daquilo. De ficar tonto com as mãos que lhe rodam à volta da cabeça e que ele finge que quer morder. Mas cansa-se depressa, ou finge que se cansa, e fica a arfar um minuto antes de ir cheirar entre as pernas do Jaquim, que era o que queria fazer há já um bocado. Só depois é que se entrega às festas deste. Deixa-se ficar entre as pernas dele, contente com os afagos vigorosos que lhe são feitos e olha para o Zé para perceber se deve fingir sentir-se culpado por ter fugido outra vez do quintal. Mas parece que não é preciso. O Zé não tem ar de quem está a pensar nisso.
Está calor demais para festas e apesar de gostar do novo amigo, o cão resolve deitar-se no chão. Está-se bem ali, à sombra. Boceja. Um bocejo enorme que lhe enrola a língua.
É ali que fica sossegado até a inquietude desinquietar os rapazes e depois vai com eles, cheirando tudo o que houver para cheirar na beira da estrada, no caminho que os vai levando para fora da vila. O cão não se preocupa em saber para onde vão porque já está onde quer estar. Ao pé do Zé.
quinta-feira, 20 de março de 2008
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