domingo, 17 de fevereiro de 2008

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A madrinha serve-lhe café com leite e biscoitos. Ele está com fome depois do dia passado no campo, a andar e ela olha satisfeita para a voracidade dele.
Come, filho, come, que ainda há mais.
Ela tem sempre coisas destas em casa. Bolos, biscoitos, pãezinhos. Passa metade do dia a amassar. Hoje já apanhou os biscoitos fora do forno, que chegou tarde. Normalmente fica a vê-la a mexer em farinha e ovos.
Vai fazer popias?
Vou sim, filho, já te tinha dito.
Quando é que ele chega?
Na terça.
Tem a certeza?
Pois se é o que está na carta…
Ele não telefonou?
Não.
E as perdizes?
São para amanhã, que vem cá o Salvador e os miúdos.
Então e quando é que faz as popias?
Amanhã também.
E tem tempo para tudo?
Tenho pois.
Veja lá não se esqueça…
Está descansado.
…que ele vem na terça… é mesmo na terça, não é?
Ó filho, não leste a carta?
Lera, claro que lera. Várias vezes. Mas mesmo assim volta a pegar nela, tira-a de cima do frigorífico, onde está desde que chegou a semana passada. O envelope beje, rasgado à pressa, lá dentro aquela simples e única folha com a caligrafia certinha e limpa do Jaquim.
…e se a madrinha não se importar, gostava de ficar hospedado em sua casa. Eu chego na terça e fico só uns dias. Queria aproveitar esta altura para resolver alguns assuntos. Deixámos muita coisa em Vila Velha quando nos tivémos de ir embora por causa da doença da minha mãe.

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