segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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A tabuleta à entrada de Vila Velha, com o seu adequado nome, continua caída entre as silvas da berma da estrada, desde que o Açoreano foi contra ela há uns meses atrás. Ainda se andam a rir disso. Há-de contar a cena ao Jaquim.
Entra por baixo e vira à direita nas bombas da gasolina, subindo até ao largo da Igreja. Frente ao café não está nenhuma mota, que é normalmente sinal de amigos. Segue em frente, passa o talho e a casa. A carrinha do pai não está. Quase lhe apetece ficar em casa, que sossego em casa é coisa rara, mas tem as perdizes lá atrás, prometidas à madrinha.
Pára então o carro no largo da escola primária, tudo em redor sufocado num silêncio de Domingo. Foi ali mesmo, há muito tempo, que se conheceram. Ali nos baloiços do recreio, primeiro dia de aulas, os dois à espera de vez.
Não gosto da escola. Saltara-lhe isto da boca de repente, irritado também com a comichão que lhe davam as calças de lã que a mãe o obrigara a usar nessa manhã.
Não gostas porquê?
Porque não.
Isso não é resposta.
Diz quem?
Diz a minha mãe.
E quem é a tua mãe?
É a professora.
Isto calou o Zé Manel que já estava pronto para empurrar o menino da mamã para cima das miúdas que saltavam ao elástico.
A tua mãe dá réguadas?
A mim não.
Zé Manel mediu o miúdo de cima a baixo. Só parecia menino da mamã por causa do colete e dos sapatos engraxados.
Como é que te chamas?
Joaquim Manuel dos Santos Ferreira, disse o outro, suspenso na dúvida se deveria acrescentar que já sabia escrever o nome todo. Mas Zé Manel não o deixou dizer mais nada.
Tenho berlindes. Queres jogar?

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