sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Entra, filho, entra.
Ele limpa os pés o melhor que pode ao capacho da entrada. O cão lança-se pelo corredor em direcção ao quintal, que é o seu sítio, que é onde há água e gatos. Mas vai com cuidado, que sabe que se partir alguma coisa apanha com o chinelo da menina Ivone.
Aconteceu isso uma vez quando o rabo se lhe enganchou no naperon de um aparador conseguindo deitar ao chão todas as 37 molduras que se engalfinhavam ali em cima. Mas o susto é que fora a lição, que do chinelo fugira ele.
Zé Manel ajudara a madrinha a montar as fotografias outra vez. Fora a primeira vez que reparara que eram só de crianças.
Quem é este?
Esse és tu, filho.
E este?
Esse és tu também.
E este?
A tua prima.
E este?
O teu pai.
Ele mal conseguia distinguir as diferenças entre aquelas crianças todas, quase todas bébés. Havia pelo menos uns cinco deitados nuzinhos em cima de uma pele de borrego. Todos com o mesmo sorriso na cara. De todas as fotografias só um bébé não sorria. Nem teria precisado de perguntar, era o pai dele.
Ao lado havia ainda outro aparador com as fotos em família. Estas maiores, mas nem por isso em menor número. Primos e tias e parentes e afilhados e conhecidos. Sempre a menina Ivone metida no meio de uma pose de família que se assemelhava um pouco à das fotos que costumavam tirar na equipa de futebol do Sport Clube. Fora nestas que pela primeira vez vira o pai do Jaquim.

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